25 de outubro de 2012

O persongem é MEU e ele é do jeito que EU quiser!


(Só pra avisar... este post não tem graça, mas tem bastante maldade)

Até jogar GURPS pela primeira vez eu tinha ainda tinha um pouco dessa visão fechada do que cada "Classe" ou "Raça" estereotipifica. Se você é um humano guerreiro, você tem uma armadura de latinha e uma cara quadrada; se você é um mago, você é um velho de saia; se é um elfo, usa um arco e fala fino.

Mas quando você não tem esses "parâmetros do livro", o que diz o que seu personagem é, ou como se apresenta, é somente aquilo que você faz dele. Claro que num sistema genérico como o GURPS isso é muito mais fácil de fazer, mas com o tempo eu comecei a enxergar que não é bem o sistema que te prende a isso e sim a comodidade de viver na base do exemplo. Não conseguir extrapolar as regras do livro, não usar a regra de ouro a seu favor.

Alguns anos atrás precisávamos criar um personagem para uma campanha de D&D 3.5, num mundo genérico qualquer criado pelo narrador. Eu, que tinha passado uns 5 anos jogando com uma ladra resolvi criar uma coisa diferente e inventei de jogar com uma paladina. Foi bem sofrido, cheguei a perder os 'poderes' concedidos a ela por causa do comportamento egoísta. Mas no fim, tirando a vontade do narrador em me manter na rédia curta, os outros personagens (e jogadores) encaravam a personagem como uma verdadeira paladina, bem comum e igual qualquer outra que alguém poderia montar.

Mas antes disso, no "brainstorm" com os outros jogadores eu acabei pensando numa coisa que seria muito mais interessante de montar, e só me faltou a coragem para por em prática a verdadeira idéia da paladina.

Vejam: e SE, eu chegasse com um homem de armadura reluzente, um cavalo branco, sorrindo no alto dos seus 18 de Carisma, com um discurso muito bonito sobre a Lei e sobre o Bem. Lutasse ao lado de meus companheiros, repreendesse cada ato egoísta e vil deles. Todas as vezes que alguém sofresse algum tipo de ferimento em batalha recebesse a cura através das minhas mãos. Quando eu atacasse um alguém, o apontasse como vilão e gritasse em nome de meu deus que o mal daquele ser desaparecesse. E um dia, descobrindo onde se escondia finalmente encontrasse uma "Vingadora Sagrada" e a empunhasse como um verdadeiro herói. Acho que todos a minha volta jurariam que eu era o  maior paladino que já existiu! Certo?

Bom, era o que eu faria, com meu Bardo, de alinhamento Maldoso, usando Cura, Blefe e Diplomacia, meu cavalo branco roubado, minha armadura pesada (graças as imensas listas de feats do 3.5), e com o "Usar item mágico". Eu poderia manter a farsa para sempre e enquanto alisava a cabeça de uma criança doente, roubaria e mataria todas as testemunhas da minha maldade durante a noite. Ou quem sabe durante o dia em quanto gritava "Smite Evil"! Eu sou o maior paladino que esse povo já viu, quem duvidaria de mim e dos meus propósitos?

As mesmas pessoas (personagens/jogadores) que se alistaram em outra campanha para a tripulação pirata, de uma capitã pirata, que havia contratado um malandro para confirmar todas as suas histórias mentirosas sobre o mar e a chamar de capitã. Mentindo sobre a existência de um navio, um tesouro, uma fama imensa pelos sete mares. Nada era verdade. Era somente alguém que dizendo que era verdade e se comportando como, convenceu seus 10 companheiros de que eles deviam obedecê-la como capitã, agir para completar uma missão e rumar para o mar. 

Acho que não, né?

As estatísticas que estavam na ficha em questão não importam em nada. Elas só estavam lá para saber que dado rolar na hora da confusão e quanto dinheiro eu ainda tinha em caixa. Nem o tamanho da minha habilidade de Blefar importava, pois eu falava com tanta convicção que nem os jogadores tinham motivos para estranhar.

Eu queria mesmo que as pessoas não se deixassem enganar tão fácil pela idéia de 'classe', 'template' e 'esteriótipo'. No fim a ficha que você tem aí debaixo dos salgadinhos e coca-cola, só serve para você lembrar o nome e se ainda tem pontos de vida para continuar em pé. A personagem mesmo é aquilo que você disser que ela é.